Antigo Cais de S. Roque 83, 3800-256 Aveiro
Telefone: 234 382 674
Telemóvel: 915 138 619
Mail: salpoente@salpoente.pt
Aberto todos os dias
É um espaço que conheço há muitos anos e que sempre apreciei. Foi a reconversão dum antigo palheiro para guarda de sal em funções restaurativas. Mas onde nunca se esqueceu essa origem humilde, numa atividade que foi em tempos fundamental para a economia aveirense e hoje se mantém com alguma expressão: a extração de sal das salinas de Aveiro. Tenho vindo a assistir a algumas alterações, seja nas instalações, no serviço ou na comida. Mas sempre me habituei a comer muito bem ali. Lembro as exposições de fotografia e o tempo em que o restaurante, mal acabavam os jantares, se transformava quase por magia num apetecível bar. Atualmente o Sal Poente cresceu em tamanho, foi remodelado com muito bom gosto, está mais sofisticado, mais bonito, extraordinariamente bem decorado e mantém a sua ligação á arte, com parcerias com a Vista Alegre, a galeria Nuno Sacramento e a Boca do Lobo design. Bom gosto e requinte é a nota num espaço com grande tradição e que no próximo ano celebra 30 anos, onde fotografia, escultura e pintura fazem parte também da decoração interior. Ganhou uma esplanada nas traseiras e o primeiro piso é também maior, tudo pensado para proporcionar aos clientes muito conforto, espaço e tranquilidade, com alguns recantos para refeições mais recatadas.
À entrada há uma receção, a que se segue a sala principal, com pé direito generoso e candeeiros elegantes a pender do tecto. Antes do enorme balcão de serventia, um recanto com sofás para uma conversa e uma bebida enquanto se espera por mesa. Em cima, no mezzanino, outra sala de menor dimensão e pé direito mais baixo, mas com o mesmo conforto e beleza da decoração. Mesas muito bem postas, com tudo o que é necessário para uma refeição de grande qualidade. Serviço muito profissional, mas com o toque de simpatia acertado e um belíssimo serviço de vinhos, desde a qualidade dos copos, passando pelas temperaturas adequadas a cada tipo de vinho, até às propostas de harmonização muito bem conseguidas. Nota-se que ali há organização e muito trabalho.






Na última visita fizemos uma refeição em que nos entregamos às propostas de comida do chefe Duarte Eira e respetivas harmonizações deste Sal Poente. Veio para a mesa pão de dois tipos, muito saboroso, para acompanhar húmus, manteiga normal, manteiga com orégãos e azeite. Seguiu-se uma entrada deliciosa de ostra, numa composição em que a leve doçura da maçã contrastava com a malagueta ligeiramente picante, no ponto, e o toque genial crocante e seco da amêndoa. Que bela entrada!
Como estamos em terra de bacalhau, foi com naturalidade que nos propuseram dois momentos com confeções distintas do fiel amigo, que mais uma vez provou estar á altura de soluções deliciosamente requintadas, sem perder o seu paladar e textura. O primeiro momento foi uma surpreendente sopa de bacalhau, cremosa, muito apaladada e bem quente, que se fez acompanhar com uma bolacha de algas, salsa e azeitona, crocante, com toque levemente salgado. Um conjunto desafiante muito bem conseguido.
Seguiu-se um taco de bacalhau grelhado, matéria prima de primeira qualidade, grelhado no ponto, na companhia de puré de batata e um delicioso crocante de broa de azeitonas e alguns pequenos legumes. Simples mas mesmo muito bom.
Passamos então ao prato de carne, tendo a escolha recaído num naco de nispo de carne de vaca da raça Marinhoa, autóctone da ria de Aveiro e que é uma das partes mais saborosas do animal. Esta carne foi cozinhada a baixa temperatura durante várias horas, tendo sido aproveitado o suco que foi largando, na companhia de puré de cenoura assada e alguns pequenos legumes. Suculenta, a desfazer-se na boca, muito saborosa, esteve em grande nível.
Terminou-se uma refeição fantástica com uma sobremesa também requintada, de belo efeito estético, daquelas que até é pena desfazer. Um kumquat com várias texturas e formas de cacau, a contrastar com as notas cítricas do gelado de maracujá, delicioso e de belo efeito estético.
Apreciaram-se vinhos ótimos, a começar pelo Alvarinho Camaleão de 2019, que esteve mesmo muito bem com a salinidade da ostra e seus acompanhamentos. Seguiu-se um vinho branco do Douro, o Mafarrico, que aguentou muito bem a sopa de bacalhau, seguro, com bela acidez, distinto. Um branco da Bairrada, o Colinas da casta Chardonnay, foi a companhia elegante para o taco de bacalhau, perfumado, intenso, muito bom.
Para acompanhar a carne a proposta, acertadíssima, foi o bairradino das Caves S. João, tinto Lote Especial de 2014. Poderoso, mas com alguma elegância, intenso, a ligar muito bem com o molho do prato, e a fazer como que um dueto de harmonização perfeita.
Para a sobremesa, cheia de contrastes, apreciou-se uma colheita tardia, da casa alentejana Herdade da Mingorra, que esteve sempre á altura, servido bem fresco, num simpático diálogo permanente com a proposta doce do chefe Duarte Eira.
Este Sal Poente, mais moderno, mais requintado, mais subtil, continua a ser uma das casas de bem comer de referência da cidade de Aveiro e mesmo de toda a região da ria. O acesso fácil e o enorme espaço de estacionamento são só mais dois motivos para o visitarmos mais vezes, sempre com enorme prazer.
Antes de regressar a casa é quase obrigatório um passeio a pé pela beleza dos canais da ria que afagam a cidade de Aveiro…