Rua Antiga Estrada Nacional 4 – 2”N, 7040-614 Vimieiro – Estremoz
Tel.-268334097
38”51´04. 7”35´35
Miguel Louro é dentista em Évora e relembra por vezes o seu bisavô que foi pioneiro na indústria da cortiça, em S. Brás de Alportel.
Mas Miguel Louro também é proprietário da Quinta do Mouro, em Estremoz. Não tem formação enológica, mas foi aprendendo com as gentes do campo e cedo descobriu a sua enorme paixão por vinho, vários tipos de vinho.
Pouco a pouco foi desenvolvendo a paixão por fazer vinho, sobretudo vinho tinto, a partir de uvas deste seu Alentejo. Miguel Louro tem como que uma aptidão natural, empírica, para preparar os vinhos que depois coloca no mercado, mas apenas quando ele acha que estão prontos. O resultado é invariavelmente arrebatador. São vinhos fantásticos, que nos conquistam á primeira aproximação, e que depois se entranham como um vício delicioso que não queremos perder nunca mais. Pelo menos é assim a minha relação com os vinhos tintos do Miguel Louro. Colheita atrás de colheita, onde apenas a natureza de cada ano dita as diferenças. Os seus Alicante Bouschet são extraordinários, do melhor que se faz no Alentejo. Ano após ano! Mas o Miguel não consegue estar quieto, gosta de aprender, de experimentar e por isso foi desenvolvendo outros tintos a partir de outras castas e mesmo fazendo alguns lotes. E foram aparecendo os Touriga Nacional, Merlot, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot. Com resultados sempre muito bons. Havia no entanto uma casta da região que o Miguel detestava, a Trincadeira, não e entendia com ela. Mas a sua irreverência e alguma teimosia á mistura, fizeram com que fosse experimentando ano após ano, até que fez finalmente um vinho tinto de Trincadeira que he agradou. E o Quinta do Mouro Trincadeira 2015 teve 94 pontos do Robert Parker!! Pois é…
A última vez que estive na Quinta do Mouro foi com o Miguel a guiar-me por aquela adega deliciosa, aparentemente uma desarrumação, mas onde o Miguel, qual druida, experimenta as suas poções mágicas. Há um par de anos o seu filho, Luis Louro, dizia-me: “Oh! Zé, quando os vinhos estão a estagiar e o meu pai entra na adega, com aquele olhar introspectivo, eu e o enólogo até nos arrepiamos!” O que queria dizer que lá vinham algumas ideias para fazer de maneira diferente, sem razão aparente, apenas porque sim, porque lhe apetecia. Depois o resultado era sempre fantástico. Foi, é e será sempre a verdadeira alma do artista dos vinhos que o Miguel Louro também é, indiscutivelmente.
A propriedade tem algumas construções, para além da casa principal, por baixo da qual é a adega e á volta estão algumas das vinhas das suas vinhas. O Miguel tinha algumas novidades, entre as quais o seu primeiro rosé, feito a partir de Trincadeira, e outro monocasta, feito de Merlot. Nessa ocasião disse-me que tinha juntado uvas de todas as vinhas com mais de 30 anos e as tinha fermentado. “Vamos ver o que isto vai dar!”, rematou. Aguardo para saber o que é que “…aquilo vai dar”.
Depois da visita á adega, o Miguel Louro levou-me para o primeiro piso, uma sala onde estão muitos dos seus vinhos, que dá a provar aos seus convidados. E foi uma viagem deliciosa por aqueles vinhos, grandes vinhos, dos Vinha do Mouro aos Zagalo, de algumas colheitas, para desaguar nos Quinta do Mouro. Foram os Quinta do Mouro 2008 e 2012, foi o Quinta do Mouro Touriga Nacional 2014 e o Quinta do Mouro Cabernet Sauvigon 2011, vinhos incríveis. E terminamos no tal Trincadeira 2015, um alentejano puro e duro, absolutamente soberbo, poderoso, com tudo no sítio, gordo, uma acidez mesmo vibrante a juntar as pontas todas e a dar um equilíbrio fantástico. Um vinho difícil de descrever, a atingir a perfeição. Bebe-se com entusiasmo, mesmo sem comida. Mas vai acompanhar comidas intensas, e não só as alentejanas, que são companhias acertadas. São vinhos sentidos, feitos com grande paixão, obra do espírito irrequieto e provocador do Miguel Louro.
Por isso gosto de os provar a ouvir uns blues de Buddy Guy, poderosos, provocadores: “Damn Right I´ve Got The Blues”.
Na despedida, o abraço do Miguel Louro a dizer-me para aparecer sempre que for ao Alentejo.
É mesmo isso que farei…