Foi num ambiente real que a Sogrape decidiu lançar o novo Barca Velha: o Paço Ducal de Vila Viçosa, no Terreiro do Paço desta vila alentejana. De arquitetura renascentista, é gerido pela Fundação Casa de Bragança.
Depois duma interessante visita às salas principais do Paço, descemos aos terraços junto ao jardim da rainha para apreciar uns aperitivos e um excelente champagne Taittinger Comtes Blanc de Blanc de 2013. A qualidade do serviço estava garantida pela equipa do chefe João Rodrigues.
E foi nas instalações incríveis da cozinha do Paço que fomos recebidos para o jantar de apresentação do Barca Velha 2015.
Como disse Fernando Guedes, presidente da Sogrape: “O anúncio de um novo Barca-Velha é sempre um momento muito especial e de enorme alegria. Por um lado, há o orgulho de ver nascer um dos mais emblemáticos e reconhecidos vinhos nacionais, e por outro, a consciência do cuidado imprescindível para escrever um novo capítulo nesta história sem igual no setor vitivinícola”.
Mas estavam reservadas algumas surpresas, numa longa noite dedicada a mais um Barca Velha.
Que começou com um novo vinho da casa, uma experiência do Luis Sottomayor, no mínimo surpreendente: o Série Ímpar Curtimenta, um vinho de curtimenta feito com vinhos de colheitas de três anos, com três castas diferentes, de três regiões:
2017 – Viosinho
2018 – Arinto
2019 – Alvarinho
Apresentou-se da cor rosada, cristalino, quase um palhete.













Muito suave no nariz, fresco, enigmático. Na boca mantém imensa frescura, associada a uma acidez intensa e uma bela estrutura. Seco, algo exótico, extremamente elegante. Uma bela experiência de que se produziram 2047 garrafas.
Acompanhou muito bem três entradas:
Lavagante azul do Atlântico, espargos verdes e molho Mousseline;
Truta salmonada e consomé á la Reine;
Galantina de galinha e foie gras.
Seguiu-se outra surpresa, o Quinta da Leda Tinto 1999.
A elegância que lhe confere o tempo de garrafa!
Bela estrutura, um nariz incrível de suavidade, aromas sedosos de alguma fruta, levemente fumado.
Continuou a evoluir durante a prova, a surpreender-nos, a dar-nos enorme prazer. Suavidade e elegância vão manter-se sempre, com um final que nunca acaba.
O Douro no seu melhor.
Fez companhia a um pregado, caviar imperial e nage de crustáceos.
Então, quase de surpresa, pé ante pé, chegou o rei, em Vila Viçosa, o Barca Velha 2015.
Aquela cor rubi intensa, bem marcada, harmoniosa. Invade o nariz delicadamente, mas toma conta dele, lenta, mas seguramente. Um perfume! Frescura, intensidade e muita, muita elegância.
Na boca é outra história. Os seus 13,5% de álcool quase não se notam. Taninos poderosos, bem presentes, mas domados, bela acidez a dar-lhe a frescura necessária, ainda alguma fruta, com notas ligeiras de fumo e especiarias. Sedoso, elegante e com um final longo, longo que nunca mais acaba. Dominam a Touriga Franca e a Touriga Nacional, com um pouco de Sousão e Tinto Cão e uma pitada de Tinta Roriz.
Na comparação lógica com o anterior Barca Velha, o 2011, é mais fresco, também mais jovem, mais concentrado, adivinha-se uma evolução em garrafa que o vai tornar famoso, ao lado dos seus irmãos de outras colheitas. Pena só haver 16.567 garrafas.
Um grande Barca Velha, mais um…
Acompanhou uma excelente perdiz vermelha com molho Périgord.
Na apresentação do Barca Velha 2015, o Luis Sottomayor explicou que “2015 foi uma vindima curta e atípica, mas muito próspera em qualidade, marcada por pouca chuva e duas ondas de calor em junho e em julho, que contribuíram para a produção de vinhos muito complexos, com boa estrutura e fruta bem presente”.
Disse também que “sempre houve uma enorme convicção quanto ao destino desta colheita”.
Nas sobremesas provaram-se dois vinhos do Porto, da casa Sandeman, também propriedade da Sogrape:
Sandeman Porto Tawny 50 Anos, uma novidade recente, que esteve em grande nível, um Porto de qualidade superior.
Finalmente apareceu na mesa o Sandeman Vintage de 1970, um grande ano de vinho do Porto. Está excelente, duma cor que já parece um Tawny, pleno de frutos secos, caramelo, mel, mas ótima acidez. Para acompanhar alguns queijos portugueses num casamento perfeito.
Os mais corajosos ainda limparam o palato com a belíssima aguardente Ferreirinha.
A noite já ia longa, muito longa…
Parabéns ao Luís Sottomayor e à sua equipa e parabéns à família Guedes.
Bem hajam.