São duas ilhas no meio do oceano Atlântico – Madeira e Porto Santo – de solos vulcânicos gastos pelo tempo, varridos pelo vento e castigados pelo sol, onde um clima húmido e moderadamente quente cria condições únicas para o desenvolvimento de vinhas, um pouco por todo o lado. Onde crescem uvas de variedades autóctones desta região autónoma, que originam um dos melhores e mais originais vinhos fortificados do mundo: o vinho Madeira. Malvasia, Boal, Verdelho, Cerceal e Terrantez são as cinco variedades que dão origem a vinhos fantásticos, onde a acidez intensa é equilibrada pela doçura, com graus diferentes que satisfazem todos os gostos. No entanto é uma casta menos nobre que domina largamente as vinhas da região: a Tinta Negra. E que acabou por ser autorizada também para a criação deste tipo de vinho, com resultados surpreendentes. Hoje já se produzem óptimos vinhos de Tinta Negra, vendidos a preços muito simpáticos. Se lhes juntarmos duas castas residentes na ilha de Porto Santo – Caracol e Listrão – temos a família completa destas castas especiais desta minúscula região. Que dão vinhos que já se produzem há vários séculos e que são conhecidos um pouco por todo o mundo. Muitas vezes são bem mais conhecidos e apreciados lá fora do que em Portugal.
O que é pena.
Mas as coisas têm vindo a mudar, embora lentamente, e há cada vez mais escanções, garrafeiras e mesmo chefes de cozinha a quererem conhecer melhor estes vinhos, para poderem divulgá-los como merecem.
E merecem mesmo!
Embora já se bebam muito bem os Madeiras mais novos, com 3 ou 4 anos, é nas colheitas mais antigas que vamos buscar toda a riqueza destes vinhos tão especiais. Os anos, muitos anos passados nos barris e toneis, dão aos vinhos toda a riqueza e complexidade que depois se vão manter muito mais anos na garrafa. Uma acidez intensa, por vezes vibrante, dá o equilíbrio necessário para compensar a doçura, de vários níveis, e a persistência e volume que tanto apreciamos. Depois é um divagar por imensos aromas e paladares, tão diversos e desafiantes, por vezes intensos mas muitas vezes sedosos e equilibrados. Provar Madeiras velhos ou muito velhos é um desafio constante e um prazer sem igual.
Os turistas portugueses que visitam a Madeira deveriam incluir na sua estadia pelo menos uma boa prova de vinhos Madeira, das muitas que estão disponíveis. Viriam de lá mais conhecedores e enriquecidos, certamente com mais vontade de voltar…