Constantino Ramos é um enólogo que também gosta de andar pelas vinhas, que tem vindo a estudar nos últimos anos. Sobretudo na sub-região de Monção e Melgaço, mas também no vale do Lima, no Douro e até nos Açores. E também tem vindo a aprender com as vinhas, na sua diversidade. Desta vez foi um jantar no restaurante Salitre, ali em Vila Chã, mesmo junto à praia. E foram produtos desse mar fantástico que nos foram apresentados à mesa, que fizeram belíssima companhia aos vários vinhos que provamos.
Começamos pelo Dona Natércia Loureiro 2023, do vale do Cávado.

Muito aromático sem ser enjoativo, levemente floral, notas cítricas e muita frescura. Belo ataque de boca, seco, intenso e com ótima acidez, notas de fruta branca e alguns citrinos, num vinho muito elegante.
Depois foi o espumante de Monção, Dona Natércia Bruto 2020, 100% Alvarinho. Bolha muito fina com alguma persistência, aroma suave com leve floral. Na boca tem excelente acidez, muita frescura, leves notas de brioche, intenso e com muita elegância. Bebe-se quase sem notar.

O Juca Loureiro 2023 é um vinho do próprio Constantino – um Loureiro de Ponte de Lima cujo nome era o nome do sogro do Enólogo. Nariz muito suave, elegante e fresco. Na boca tem bela acidez, fruta branca de polpa, com notas de limão. Muito equilibrado no conjunto, é um vinho moderno, muito agradável.

Veio então o Turra 2019 – com uvas de Celorico de Basto. Um vinho verde com 5 anos de garrafa, é obra! Uma maravilha.
Já se nota alguma evolução, mas mantém ainda frescura e equilíbrio. Na boca é seguro, intenso e tem óptima estrutura. Uma bela ironia de como os vinhos verdes, quando bem feitos e com qualidade, envelhecem muito bem.
Este tem um final de boca muito longo.
Outra curiosidade é o Materramenta de 2023, o vinho branco que o Constantino faz nos Açores, na ilha Terceira, freguesia dos Biscoitos, com as castas locais Arinto dos Açores e Verdelho. A vulcanidade açoriana dentro da garrafa. Muita mineralidade, seco, com belíssima acidez, muito suave no nariz, algo exótico, leves notas de fumo, um vinho complexo e atraente. Que belo vinho!
Estes vinhos acompanharam muito bem uma grelhada de alguns peixes nobres: a sofisticação do robalo, rodovalho, cherne, corvina…não faltando mas amêijoas a saber a mar. Grelhados no ponto, nem de mais nem de menos, azeite, batatinha a murro e legumes salteados.



“A simplicidade é o último grau da sofisticação”, disse Leonardo Da Vinci
Continuando a prova, passamos então ao Afluente 2019.

Um grande Alvarinho, de vinhas com alguma altitude. Totalmente fermentado em barricas usadas. Que lhe extraíram todo o seu potencial. Estrutura, aromas complexos, a madeira bem integrada, ainda boa fruta. Um vinho cheio de elegância. Leves notas de fumo, sedoso, com personalidade e um enorme final de boca.
Já o Afluente Alvarinho 2023 é um vinho ainda jovem, cheio de força. Muita frescura e leves notas de madeira bem integrada. Na boca revela óptima estrutura, seco e com bela acidez, complexo e desafiante. Um grande Alvarinho a pedir tempo de garrafa.
Demos então um salto ao Douro, para provar o Firmado Douro 2022 – com uvas de Viosinho e Gouveio de Ervedosa do Douro e Rabigato da Meda. Aroma contido, sedoso e elegante. Na boca é complexo, excelente acidez, intenso, uma bela conjugação destas três castas típicas do Douro, um belo vinho.


Veio ainda uma carne de vaca grelhada, com cubinhos de batata salteada, para aconchegar o estômago.
Uma curiosidade é o Turra Craft 2022 – um Vinhão feito de bica aberta, estagiado em cascos de Carvalho usados. Ficou mais elegante, menos rústico, mais “civilizado”, um vinho moderno a provar o que esta casta pode fazer. Coisas muito interessantes e acessíveis a um público mais vasto.

Um clássico do Constantino Ramos é o Zaphira, neste caso o da colheita de 2018 – um pouco de Vinhão, Cainho, Espadeiro, Alvarelhão, Pedral e Borraçal, todas castas de Monção. O tal trabalho de conhecimento das vinhas a dar frutos, muito interessantes, um pouco fora do baralho.
Feito de bica aberta, um terço foi estagiado em barricas usadas e o resto em inox.
Mantém alguma rusticidade, muito complexo mas ao mesmo tempo acessível e desafiante, o tempo de garrafa só lhe fez bem, quase parece um palhete.
O grande final foi o Juca 2020. Uvas duma vinha centenária com várias castas misturadas, fermenta tudo junto durante uma semana, é prensado e está pronto.

Mais próximo dum verde tinto tradicional, belo vinho a pedir comida adequada.
Ali no Salitre a comida foi mais do que adequada, produtos de excelência, muito bem confeccionados.
Uma bela noite a provar coisas muito boas.

Parabéns ao Constantino Ramos, pela qualidade daquilo que faz, pelo bom gosto mas também pela irreverência. Parabéns ao restaurante Salitre pela excelência de tudo o que coloca na mesa.
Lá fora, o mar a bater nas rochas, continuava poderoso…