Na apresentação do vinho Legado 2019, um dos vinhos tintos de topo do portefólio da Sogrape, fomos avisados de que haveria várias surpresas, quando fomos convocados para a Casa da Música, no Porto. A primeira surpresa foi que não ia ser apresentada apenas a colheita de 2019, mas também a colheita de 2018, que não tinha ainda sido apresentada, uma colheita mais pequena, de apenas 1.800 garrafas, sendo a de 2019 de 2.800 garrafas. Outra surpresa foi a encomenda que a Sogrape fez ao maestro e pianista Sousa Tavares, duma música que pudesse de qualquer forma, simbolizar este vinho. O maestro não só explicou a música, numa apresentação muito interessante, como a interpretou ao piano magnificamente. Provaram-se então os vinhos, que apresentaram naturalmente algumas diferenças, sobretudo relativas aos dois anos de colheita, mas que mantiveram o perfil a que já nos habituaram, e foram ambos envelhecidos em cascos de 1.200 litros de carvalho francês e austríaco.
O 2018 mais fresco, mais contido, muito elegante, até mesmo sedoso. Na boca é autoritário, cheio, com aquele perfil característico do Douro. Notas ligeiras de madeira, de frutos vermelhos, muito equilibrado, acidez intensa e uma frescura deliciosa a acompanhar taninos bem presentes, secos e já domados, com grande final de boca. Já se bebe muito bem, mas vai melhorar com alguns anos de garrafa.
O Legado 2019 está também excelente, de grande nível, como seria de esperar. 2019 foi um ano de inverno seco e primavera e verão amenos mas com noites frias, o que permitiu uma evolução suave e lenta, que se refletiu no produto final. Este Legado segue o percurso dos seus antecessores, mostrando-se escorreito, são, revelando aromas de plantas do campo, leves notas florais, alguma complexidade e uma bela frescura. Na boca é espesso, redondo, ainda com notas de frutos vermelhos, figo e leves notas de chocolate. Acidez intensa, a ligar o conjunto, que apresenta taninos robustos a dar-lhe consistência. Um vinho sério e atrativo, com grande final. Mais um grande Legado.
Veio então mais uma surpresa: fomos convidados a apanhar o transporte disponível e rumar ao restaurante “Rogério do Redondo”, para o jantar. A razão dada para esta escolha, aliás excelente escolha, é que era um dos poisos preferidos do sr. Fernando Guedes.
Que ali até criou um grupo a que deram o sugestivo nome de “Guardanapeiros”, em referência á obrigatoriedade dos membros do grupo utilizarem um guardanapo em forma de babete, sempre que se sentavam á mesa para partilhar uma refeição. E foram muitas as vezes em que usaram a babete…
E assim é até aos nossos dias, tendo o grupo crescido, garantindo a apreciação de petiscos e pratos tradicionais, sempre com a babete ao pescoço, agora com a memória de um dos seus fundadores, o Sr. Fernando Guedes. Ali chegados, cada um tinha á sua disposição a tal babete, com o nome gravado.
Veio então a última surpresa: além dos tradicionais petiscos desta casa de bem comer, onde não faltaram os pézinhos de porco de coentrada, foi servido um dos pratos mais apreciados pelo Sr. Fernando Guedes: bacalhau cozido com todos!! Chegaram então travessas bem apetrechadas com bacalhau com dois anos de cura da Islândia, batatas, pencas, cenouras, cebolas e ovos, tudo cozido no ponto e bem-acondicionado nas travessas, forradas com panos de algodão, como deve ser.
Mangas arregaçadas, a babete bem ajustada, azeite farto e golfada de vinagre, alho picadinho e foi um fartote. Até parecia que sentíamos a presença do sr. Fernando Guedes e o seu sentido de humor, a espalhar boa disposição.
Ainda se provou um excelente vinho verde da Quinta do Azevedo, também propriedade da Sogrape.
No entanto o Legado 2019 foi companhia adequada á bacalhoada e houve até quem repetisse, tal a qualidade.
A doçaria variada e os queijos de excelência já custaram um pouco a apreciar.
Uma volta a pé pelo centro da Invicta foi boa opção…mas sem a babete!





