Rua D. Fernando, 128, Cortes 542, Mazedo, Monção
Telefone: 917 557 883
Fica mesmo á entrada de Monção esta quinta de produção de vinho da região, mas que também é espaço de lazer da família. E é Joana Santiago quem representa a imagem dos vinhos que ali se produzem. Advogada de formação a viver e com escritório em Ovar, desde muito cedo que se apaixonou por este espaço rural, onde se habituou a passar férias e a conviver e aprender com a avó Maria Santiago, então a proprietária da quinta e quem dirigia toda a produção rural, com o vinho á cabeça. Ali a Joana foi-se familiarizando com o mundo rural, sobretudo com as vinhas, de que se produzia vinho para consumo próprio, sendo o resto das uvas, da casta Alvarinho, vendidas para a Adega Cooperativa. Herdou da avó, além do adn, a persistência, a teimosia, no bom sentido, a capacidade de liderança, de saber o que quer fazer, mas que gosta sempre de fazer bem. Já mulher feita e casada, a avó convenceu-a, e a toda a família, a fazer um vinho próprio, da casta rainha da região, a Alvarinho, em que toda a família estivesse envolvida. E assim nasceu este projecto, hoje de grande sucesso, que a partir de 2009 foi adaptando toda a produção vinícola á produção de vinhos mais modernos, como o mercado exigia. A quinta está na família desde 1899, o que era uma responsabilidade acrescida, pois queriam fazer vinhos modernos mas homenageando a avó Maria e a sua vontade de ter estes vinhos no mercado.
A Joana tem sido o grande motor do projecto e conseguiu mesmo fazer essa justa homenagem á avó, quando, em 2012, produziram o primeiro vinho, que colocaram no mercado em 2014, o primeiro vinho Alvarinho da Quinta de Santiago. Infelizmente a avó Maria já cá não estava para assistir e, certamente, participar com entusiasmo. Mas a Joana, com a ajuda de toda a família, faz com que cada garrafa de vinho da Quinta de Santiago seja uma singela homenagem á sua avó.
A propriedade mantém-se quase na mesma, apenas diferindo pela quantidade de vinha que tem vindo a ser plantada e da moderna adega que foi preciso construir criando as condições necessárias para fazer vinhos de qualidade. Com a ajuda do marido e sempre com o apoio dos pais, a Joana conseguiu que fosse construída uma adega moderna em pouco tempo, que foi dotada de moderna tecnologia, sobretudo prensa e depósitos de inox. A que se juntaram barricas de madeira, e mesmo um balseiro e uma talha de barro, moderna, onde se fazem algumas experiências bem interessantes. Ali o lema é inovar, mas mantendo as tradições e assim fazer vinhos Alvarinho de grande qualidade e propôr aos apreciadores novas experiências. É o caso do Rosé, que obteve um enorme sucesso. É um vinho de bela cor rosada muito elegante, cheio de fruta madura no nariz e algum floral, mas depois na boca com uma frescura e uma acidez cativantes, com toque citrino, cheio de elegância mas com óptima estrutura, um vinho gastronómico, e que é feito a partir de uvas das castas Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alvarinho. Por falar em Alvarinho, os vinhos desta quinta são preparados a partir desta casta, de vinhas próprias, e estão já num patamar muito alto na região. Têm fruta mas sem ter uma expressão aromática exagerada, muito finos, cheios de elegância, com belíssimos volumes de boca, a acidez sempre bem presente a dar ênfase aos vários aromas e paladares, desde o citrino ao toque seco da sua mineralidade, por vezes leves notas de fumo, a pairar no nariz, delicioso. O Quinta de Santiago Reserva difere do seu irmão mais novo pelo estágio que teve em barricas de carvalho francês, que lhe deram mais complexidade, mas com a madeira muito bem integrada, sem ferir, a dar-lhe untuosidade, ainda melhor volume de boca e a potenciar a elegância desta casta fantástica. E como lá no monte têm algumas vinhas da casta Loureiro, vá de fazer um lote com Alvarinho (70%) e Loureiro (30%), que está bem bom. Depois apareceu o espumante, que foi um corolário lógico para este produtor. A casta Alvarinho é das que melhor pode aguentar a espumantização, e este vinho é um óptimo exemplo disso. Bolha fina, muita cremosidade, seco, com alguma fruta a sobressair no nariz, uma acidez fantástica e um belíssimo final de boca. Servido bem fresco é um caso sério, muito sério!
Junto á adega está um pequeno lago, que já existia na propriedade e, mais acima, é a casa antiga, que foi mantida, e muito bem, pois faz parte da tradição desta família. Era isso certamente que a avó Maria Santiago gostaria que fizessem. Até por que a família utiliza muito este espaço, que também continua a ser de lazer. As filhas da Joana já por ali andam a aprender as coisas da terra. Como a mãe, a avó e a bisavó Maria.
Na parte de baixo da casa ainda existe a velha adega, que foi mantida com muitos dos artefactos e algum mobiliário, e que hoje é usada para fazer algumas provas de vinho, acompanhadas com petiscos da região.
Ali somos sempre muito bem recebidos, mesmo que não sejamos amigos da casa, como eu. As portas estão abertas a quem os quiser visitar, conhecer a adega, apreciar as vinhas, provar os vinhos. E até se pode comprar umas garrafas de vinho a um preço especial. Se a Joana Santiago lá estiver, vai ser difícil vir embora, pois ela não vai descansar enquanto não contar a história toda da família e da região e nos der a provar os vinhos todos, com aquela simpatia que lhe é conhecida. Recentemente fizeram uma interessante experiência com um produtor e amigo do Alentejo, a Herdade do Rocim, e um vinho da Quinta de Santiago foi trabalhado enologicamente pelo Pedro Ribeiro, o responsável da enologia daquela herdade alentejana. O Pedro foi até Monção e trabalhou as uvas da casta Alvarinho numa talha de barro natural, de construção moderna, que a Joana Santiago comprou em Itália. Uma talha em que o barro quase não é poroso, permitindo trabalhar os mostos duma forma segura. Produziram 2.000 litros, tendo metade estado nessa cuba sobre as borras finas, durante 3 meses e a outra metade em cuba de inox. Ao fim deste período, o vinho da cuba de inox trocou de lugar com o da talha, onde esteve mais três meses, mas agora sem as borras. Parece que a experiência resultou em cheio. Muito recentemente avançaram com novo projecto, desta vez com outro produtor alentejano, a Herdade das Servas, da família Serrano Mira. Joana Santiago e Nuno Mira do Ó lançaram-se numa aventura e, da vindima de 2018, surgiu o Alvarinho Sou, mais um Alvarinho fantástico, desta vez em parceria com um outro alentejano. Dizem eles que foi vindimado ao som de boa música rock, um vinho muito á frente.
Os rótulos dos vinhos são desenhados por uma amiga da Joana e são baseados nas filigranas vianezas, e no coração minhoto, que a avó Maria, que era uma excelente bordadeira, gostava de bordar, tão tradicionais. Mais uma vez a modernidade a respeitar as tradições. Hoje os rótulos da Quinta de Santiago são inconfundíveis em qualquer prateleira…
Quando se vai a Monção, é obrigatório visitar esta Quinta de Santiago e provar os seus vinhos.
Difícil vai ser regressar…