A Quinta da Leda é uma das principais propriedades da Sogrape no Douro, e dali saem muitos dos vinhos da Casa Ferreinha, também propriedade da empresa, desde o Esteva, passando pelo Callabriga, pelo Quinta da Leda, pelo D. Antónia Adelaide Ferreira, até ao mítico Barca Velha. Há alguns anos a Sogrape juntou á Quinta da Leda a Quinta da Granja, também junto ao rio Douro e á ribeira de Aguiar. São 160 hectares de vinhas, que vão desde o rio Douro, que ali está a uns 120 metros de altitude, até lá acima, a mais de 300 metros de altitude. O que permite juntar uvas de várias altitudes, com vários tipos de frescura, e transmitir aos vinhos daí resultantes enorme complexidade, entre as várias castas que são utilizadas. Como curiosidade, a Quinta da Leda possui um dos raros muros apiários da região, muito bem recuperado e onde por vezes a empresa prepara pic-nics deliciosos, no meio da natureza. Estes apiários eram utilizados pelos nossos antepassados longínquos (este é da Idade Média), para instalar as colmeias e torná-las inacessíveis aos ursos que por ali havia naqueles tempos.
A adega da Leda é um edifício bem integrado na paisagem, moderno, com toda a tecnologia disponível mas que está em constante actualização, ao sabor das novas necessidades e novas tecnologias, pois foi projectada e construída também com essa finalidade. O resto é uma paisagem arrebatadora, selvagem, rude, com a beleza do monte da Callabriga ali ao lado e, mais abaixo, toda a beleza desse rio que faz as delícias de quem vem visitar esta região. Eu, que ando por ali há mais de 35 anos, nunca me canso, encontro sempre novos motivos para apreciar aquela beleza incrível, aquela paz, aquele sossego.
E é de todo este conjunto de situações que vieram as uvas que produziram este Quinta da Leda 2017. Uvas das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinto Cão, juntas num lote de excelência, cujo produto se apresenta com aquela cor granada intensa, opaco, belíssimo. Chegado ao nariz, são aromas complexos de frutos vermelhos maduros, algum floral, plantas silvestres, do monte, algo rústico, com aromas de especiarias e tabaco e um leve toque balsâmico, quase resinoso, muito agradável.
Apetece continuar a cheirá-lo sem o meter na boca. Na boca nota-se a qualidade da madeira em que estagiou durante 18 meses, embora só metade o fizesse em barricas de carvalho francês novas, a outra metade esteve em barricas usadas. Um trabalho aturado da equipa de enologia liderada pelo Luis Sottomayor. Tem estrutura e corpo poderosos, mas ao mesmo tempo uma enorme elegância. Notas levemente apimentadas, um vinho gordo, ainda com os frutos vermelhos bem presentes, taninos muito bem casados e um toque de fumo tão agradável. Um vinho, como alguns dos seus irmãos, que mantém todos os anos aquelas características dos vinhos desta propriedade, uma grande complexidade, alguma austeridade mas uma enorme harmonia. As diferenças, essas são sobretudo ditadas pela natureza, pois não há dois anos iguais. E na Leda deixam a natureza expressar-se, cada ano, todos os anos.
Este vinho deve ser decantado, pois não teve tratamentos e poderá apresentar algum depósito. Já se bebe muito bem (eu apreciei-o com um galo assado no forno, com arroz de forno), mas vai evoluir em garrafa nos próximos anos, mesmo muitos anos.

No próximo inverno vai acompanhar na perfeição umas perdizes estufadas com vinho do Porto, seguidas dum queijo Terrincho com geleia de marmelo, enquanto se ouve, tranquilamente, Claude Débussy…
Numa garrafeira custará cerca de 40,00€.