Foi numa simpática e eficaz reunião on-line, através do Zoom, que funcionou muito bem. São os tempos que vi-vemos e que acho que vieram para ficar, pois agiliza estes eventos e poupa nas despesas de deslocação, permitindo a muitos de nós trabalhar a partir de casa ou do escritório. No passado dia 11 de Maio provamos e fomos comentando duas novidades deste produtor de Trás-os-Montes, a família Costa Boal. Mas antes houve uma pequena apresentação a cargo do próprio produtor, António Boal, que teve ainda a companhia e pequena intervenção da sua filha Carolina Boal, que foi a responsável pela plantação duma nova vinha no ano de 2012, tinha ela então apenas 6 anos. E foi também por isso que o pai resolveu chamar a este vi-nho Parcela CB (de Carolina Boal).
Logo de seguida foi a vez do enólogo Paulo Nunes fazer as necessárias e bem interessantes apresentações de mais dois filhos seus, os vinhos que estavam a ser provados e comentados. Paulo Nunes é bem conhecido pelos vinhos que cria e produz nas regiões do Dão e da Bairrada, mas também no Douro e agora em Trás-os-Montes tem vindo a desenvolver algumas marcas, que já têm a sua “marca”. Antes de falar dos vinhos é interessante falar da sua génese. António Boal, quando resolveu plantar algumas vinhas nesse ano de 2012, utilizou um viveirista para obter as varas das castas que pretendia. Uma delas era a Touriga Nacional.
Mas quando quiz mais quantidade de varas desta casta, deparou-se com a informação da parte do viveirista de que já não tinha mais. Mas que tinha a casta Baga. Pensou um pouco e resolveu arriscar. E assim nasceu a Parcela CB, da casta Baga, plantada em…Trás-os-Montes. Quando o enólogo Paulo Nunes se deparou com esta realidade, achou estranho e quase nem queria acreditar. Mas, conhecendo bem esta casta, rapidamente aceitou o desafio de fazer um vinho a partir destas uvas. Algo que também encontrou no solo desta vinha foi terreno argiloso, o que era um bom presságio e a que esta casta está bem habituada, sobretudo na Bairrada. O outro vinho mono varietal que foi apresentado foi da casta Alicante Bouschet, também plantada em Trás-os-Montes, embora esta casta apareça com alguma frequência nesta região, sendo uma casta transversal a todo o país, sendo muito vulgar no Alentejo.
Como diz o Paulo Nunes, cada vinho dum produtor tem que se auto-justificar. Nestes dois casos o factor diferenciador são as castas. Baga duma vinha nova (12 anos) e Alicante Bouschet duma vinha velha (60 anos). E destacou que é em Trás-os-Montes que tem encontrado ainda muitas vinhas velhas, que estão mais resguardadas do que noutras regiões. E Paulo Nunes gosta de fazer enologia presencial e com muito gozo pessoal. O que é facilitado pelo facto de fazer vinhos em 4 regiões diferentes mas que estão todas a cerca de uma hora e meia de distância de sua casa, o que lhe permite estar em qualquer um dos locais rapidamente.
Depois provaram-se e comentaram-se os dois vinhos, sendo que o Baga foi a grande curiosidade e vedeta da apresentação. Feito com desengace total e maceração pré fermentativa, a sua fermentação acabou em barricas usadas de carvalho francês. Onde também estagiou durante alguns meses. Apresentou-se um vinho muito elegante, com nariz intenso característico da Baga, envolvente e com alguma frescura. Na boca tem estrutura, apresenta os taninos ainda bem presentes mas já integrados no conjunto, uma acidez intensa e bastante frescura, a dar-lhe alguma complexidade, que nos desafia. Mas sempre muita elegância e um final de boca longo, característico da Baga. Vai evoluir na garrafa e pode durar muitos anos. O produtor aconselha bebê-lo entre os 14º e os 17º. Desta colheita de 2016, produziram-se apenas 1.200 garrafas, com um PVP de 20,00€.
Provou-se depois o Alicante Bouschet, que também sofreu desengace total e maceração pré fermentativa durante 48 horas. Este vinho estagiou em barricas novas de carvalho francês durante 18 meses. Aromas de alguma fruta vermelha bem madura, algumas notas vegetais, leves notas de chocolate e fumo. Na boca é intenso, com grande estrutura e uma acidez poderosa. Taninos seguros mas bem integrados e muita frescura, que se junta a notas de tabaco e algum chocolate, café, dando um conjunto equilibrado e com grande elegância. Um grande vinho tinto a provar que a região transmontana pode vir a ser um caso sério, muito sério. Deste vinho também só foram produzidas 1.200 garrafas, com um PVP de 30,00€.
Como disse o Paulo Nunes a fechar a prova, são vinhos de vinhas que produzem apenas cerca de 2 toneladas por hectare e por isso tem que se ter coragem de valorizar estes produtos. Agora é aguardar mais novidades deste produtor…