Octávio Freitas é um dos mais conhecidos chefes de cozinha da Madeira, ele próprio madeirense de gema e que no arquipélago tem feito o seu caminho, á frente de grandes cozinhas. Já há alguns anos que é o responsável pelos restaurantes dos três hotéis da cadeia madeirense “Four Views”, onde faz um excelente trabalho.
Agora foi a vez de avançar com o seu projecto pessoal, mantendo-se no entanto, na cadeia “Four Views”.
Em passeio de fim-de-semana pela ilha, viu um terreno na zona da Calheta, em socalcos, repleto de vegetação, mas com uma configuração que desde logo o apaixonou. Foi um passo até adquirir esse terreno, onde havia umas ruínas, pensando desde logo em adaptá-lo para habitação de lazer e descanso. Com a ajuda do pai o terreno foi limpo e foram descobertas algumas vinhas muito velhas, assim como linhas de água por todo o lado. Então acendeu-se aquela luz na imaginação do Octávio e avançou com um projecto turístico, aliás ideia antiga. Trabalhou com entusiasmo no seu projecto, contratou profissionais, meteu todos os licenciamentos necessários e a obra foi ganhando corpo.
E a paixão do Octávio foi cada vez maior, vendo a materialização dum sonho aproximar-se da realidade. Como é seu hábito, só trabalha com produtos de qualidade: desde a recepção aos quartos, passando pela cozinha, tudo foi escolhido criteriosamente, materiais e equipamentos do melhor, para que os profissionais que trabalham com ele tenham as melhores condições para fazer um trabalho de excelência. E para que os hóspedes possam usufruir a beleza da paisagem com todo o conforto.
Chegado o dia de abertura do seu hotel – chamou-lhe “Socalco”, em homenagem aos socalcos do terreno que tanto o encantaram – foi com imensa satisfação que viu os hóspedes e os clientes do restaurante tecerem imensos elogios áquilo que encontraram. E assim tem vindo a ser desde então.
São 20 quartos com casa de banho privativa e um apartamento T2, a que chamou “A Casa do Chefe”, com sala com vista panorâmica e uma cozinha muito bem equipada. O que permite ter um chefe a cozinhar de forma privada, ou serem os próprios hóspedes a cozinhar.
Na receção a curiosidade de terem uma gaiola pombalina anti-sísmica em muito bom estado. Há também um forno de lenha centenário.
São vários edifícios por entre as vinhas, sempre com aquela vista soberba para o mar, lá em baixo. Junto a um deles há uma simpática piscina, para nos refrescarmos. Mas também é uma boa opção descer até ao mar e dar uns mergulhos naquele oceano fantástico.
O restaurante, que se chama A Razão, é o resultado dum trabalho apurado na sua decoração, muito bem conseguido. A sala é em forma de L, fazendo de um dos lados a ligação á cozinha. Á frente está uma esplanada deliciosa, com toda aquela luminosidade a entrar por ali dentro. Também se pode, e deve, tomar o pequeno almoço lá fora. Uma maravilha!
A cozinha é quase uma obra de arte. Desde logo pelo enorme pé direito, a dar-lhe dimensão. Ampla, com muito espaço para trabalhar e um fogão que é quase uma peça de coleção, á maneira do Octávio.
As refeições são elaboradas com produtos de proximidade, do dia, entre marisco, peixe, carne e fruta. Legumes e ervas aromáticas são apanhados diariamente por toda a propriedade, tal a fartura. Mais frescos é impossível!
Numa recente visita, além do pão e da manteiga, apreciamos um ceviche de atum, beterraba e alface da horta, de enorme frescura, delicioso. Seguiu-se um à Brás de vieira com batatas da horta. Terminou-se com fragola de camarão e lulas em caldo de pargo. O mar dentro do nosso prato…Mas também ali se trabalham óptimas carnes nacionais. Por vezes basta uma pitada de sal grosso e a grelha bem quente para nos deliciarmos.
Pela encosta acima são 6.000 metros de vinha, muito bem tratada e que em breve dará os primeiros vinhos. Verdelho, Boal e Terrantez foram as castas autóctones escolhidas pelo Octávio para as suas novas vinhas.
E as hortas com fartura de legumes, que ocupam quase todos os cantos disponíveis, regadas com as linhas de água abundantes. Passeando por ali acima, vai-se apreciando os aromas das ervas aromáticas que também dão uma enorme beleza áqueles socalcos. Para respirar ar puro e carregar baterias a sério…
Um local de recolhimento, de paz, de contemplação, onde sabe bem passar uns dias, a sós ou bem acompanhados.
O que vai custar mesmo vai ser deixar este paraíso.
Mas podemos sempre voltar, uma e outra vez.