É já uma das referências algarvias na restauração, que ali atrai clientela de todo o país, para além de muitos estrangeiros. Tudo por culpa duma mulher algarvia cheia de energia e muito bom gosto: a Noélia.
Esplanada generosa com vista para o mar, do outro lado da rua. Uma primeira sala cheia de luz, separada por vidraças da segunda sala. Esta tem ao fundo enorme balcão de serventia que também dá para a cozinha aberta. É ali que tudo se passa, é ali que a Noélia limpa e amanha os produtos frescos que recebe diariamente, é ali que prepara tempêros e texturas e é ali que, na hora de ponta, comanda as suas tropas, qual Maria da Fonte, e ganha todos os dias a batalha da vida, da sua vida.
Estar junto ao balcão que dá para a cozinha a ouvir a cantilena da Noélia a comandar as hostes, sempre atenta a entradas de pedidos e na frente de combate á saída dos pratos, é, por si só, um espetáculo de eficácia e sabedoria. Quanto á comida, o ideal é colocarmo-nos nas mãos da Noélia e deixá-la surpreender-nos. Mas também prepararmo-nos para levar uma “tareia” de qualidade e bom gosto. No fim, mais uma vez, a Noélia ganha em todas as frentes. Mas mesmo nas horas mais complicadas, como se diz na gíria, na hora do lodo, esta algarvia não deixa de espalhar aquele sorriso sincero que nos deixa rendidos.
Mesas bem postas, com simplicidade, espaço acolhedor e confortável. Serviço profissional a cargo de gente jovem, com muita simpatia, mesmo que o restaurante esteja cheio, o que é vulgar.
Pão algarvio do melhor, azeitonas ao natural deliciosas e um paté muito saboroso.
Depois é o desfilar de petiscos e pratos mais elaborados absolutamente irresistíveis.
Tártaro de gambas da costa com laranja, ceviche de dourada e figos frescos com anchovas e queijo fresco, qual deles o melhor e mais original.
Aberta a época da sardinha, o arroz de sardinha é já um clássico desta casa de bem comer.
Pão tradicional, tomate, pimento, cebola e ervas e por cima os lombos da sardinha levemente brazeados, para sorvermos toda a frescura do peixe, delicioso.
As pataniscas de polvo, já famosas, aproveitam a tradição do polvo nestas praias costeiras do concelho de Tavira, numa confeção surpreendente e deliciosa, enriquecida com a companhia da açorda de amêijoas, cremosa, bem ligada, de textura perfeita. A tempura de camarão com salada de manga picante é um exercício de equilíbrio entre camarão carnudo envolvido numa tempura crocante e saborosa, com a frescura doce da manga, cortada pelo ligeiro e saboroso picante da malagueta vermelha fresca. Com a vantagem, para quem não gostar de picante, de poder retirar as finas fatias de malagueta. Belíssimo.
As ostras vêm do Moinho dos Ilhéus, uma zona muito especial daquelas águas costeiras, para preparar, entre outros, o arroz de ostras. É um prato que nos leva ao céu, surpreendente, a saber a mar, àquele mar algarvio de excelência. Arroz malandrinho, povoado com pedaços abundantes de ostras frescas, lascas de pargo e salicórnia, a que se junta plancton. Textura e tempêros incríveis, tudo produtos marinhos de excelência.
Mas outros pratos vão aparecendo dia a dia, conforme o que vem da lota e do mercado, sempre com o bom gosto e sabedoria da Noélia: tártaro de atum rabilho, tártaro de carabineiro, sopa rica de peixe, arroz de limão com corvina e amêijoa, raia alhada, arroz de gambas da costa, arroz de carabineiros e mesmo um delicioso arroz de cabrito, que a Noelia também faz alguns pratos de carne do Barrocal algarvio.
Para além da doçaria algarvia original, as laranjas são deliciosas.
Bebem-se os vinhos da Noélia e fecha-se com um grande café e um shot de medronho…ou dois!
A Noélia, mesmo cansada, tem sempre um sorriso e uma nota de carinho para com a vastíssima clientela.
Este é um espaço de peregrinação.
Depois, um passeio mesmo á beira mar é imprescindível para ajudar a fazer a digestão…











