Tv. da Aldeia 125, 4510-260 São Pedro da Cova
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O chefe José Magalhães tem uma história simples mas muito consistente, pois não nasceu na cozinha nem para a cozinha, apaixonou-se pela cozinha. Originário de S. Pedro da Cova, terra bem conhecida pelas minas que ali existiram tanto tempo, sempre foi comercial de ourivesaria, que é terra dela também, pertencente ao concelho de Gondomar. Ali a arte de trabalhar metais preciosos, principalmente prata e ouro, é ancestral, e o José Magalhães nela começou a trabalhar muito cedo. Um dia, de repente, resolveu aprender a cozinhar a sério, embora já gostasse de preparar uns petiscos.
Tinha 50 anos quando resolveu dar o salto e aprender a arte da cozinha. Seguidamente estagiou num restaurante em Avintes, até que foi trabalhar para o restaurante Casa Velha da Aldeia, em S, Pedro da Cova. E ali foi construindo um trabalho sério e dedicado, reconhecido pelos proprietários e pelos clientes. Até que um dia aqueles lhe perguntaram se não queria tomar conta da casa. Não demorou muito a decidir e avançou com o seu próprio projecto.
Fez ligeiras modificações e aproveitou todo o potencial da casa para fazer aquilo que gosta mesmo, que é cozinhar, receber as pessoas e vê-las satisfeitas com os seus pratos.
Não admira, pois o José Magalhães é rigoroso, antes de mais nos produtos que utiliza, coisas tradicionais mas sempre de grande qualidade. Depois aplica as técnicas que aprendeu mas também o conhecimento das tradições da nossa cozinha, de que é grande defensor. O resultado é uma procura cada vez maior por parte dos que lá vão e que voltam sempre e dos muitos que ouvem falar, que procuram e que dão por bem empregue o tempo que gastam a descobrir este espaço rústico nos confins de S. Pedro da Cova.
Lá chegados, deixamos o carro num enorme espaço de estacionamento, e recebe-nos a casa rural, tradicional, muito rústica, onde predomina o granito e a madeira. Passado o enorme portão, é o alpendre tradicional das casas do campo, escadaria acima para um varandim tão acolhedor, estamos mesmo na aldeia.
Uma porta de grossa madeira e estamos na sala principal. Espantoso! Muitos artefactos rurais, uma lareira do lado esquerdo sempre acesa, pois por ali hão-de passar algumas vitualhas antes de virem para a mesa. Enormes travejamentos de madeira e tectos de madeira ripada, algum granito pelas paredes. Uma beleza…
Numa e noutra sala as mesas enormes, sejam redondas ou rectangulares, cobertas de atoalhados aos quadrados, de belo efeito. Cadeiras, banquinhos ou bancos corridos, mesas muito bem postas e serviço acolhedor e simpático, também dirigido pelo José Magalhães, que vai fazendo o vai-vém entre a sala e a cozinha, mesmo ali ao lado.
Sentados à mesa, vem broa e regueifa deliciosas, de pedir mais, e umas entradinhas apetitosas: queijinho seco, azeitonas, óptimo presunto e um salpicão fantástico. Ainda nos estamos a adaptar e já repousam na grelha da lareira a alheira e o chouriço de carne. Saltam para a mesa já cortados, tendo a alheira por cima um ovo estrelado, para “escangalhar” sobre a alheira, como ali é tradição. Produtos excelentes, não se resiste.
Também irresistíveis são as papas de sarrabulho, olorosas, carnes bem desfiadas, preparadas no pote de ferro, na lareira.
Há várias confecções de bacalhau, como um delicioso bacalhau á Zé do Pipo, preparado com rigor, puré cremoso, bastante azeite, vem directamente do forno para nossa satisfação.
Dos vários pratos tradicionais de carne, provou-se primeiro um soberbo javali estufado, com molho farto, cenoura, feijão vermelho e grelos, a carne do javardo tenríssima e saborosa, a acidez dos grelos a equilibrar tudo, que belo prato. Provaram-se ainda umas deliciosas tripas á moda do Porto, muito completas, com as tripas lisas, de alvéolos e de folhos, bem temperadas, uma maravilha.
Depois foi o também tradicional cabrito assado no forno. Bichos pequenos e bem temperados, assados em assadeira de barro, lentamente, com tempo, rodeados de batatinha assada e grelos salteados. Á parte, em alguidar de barro que foi ao forno, um arroz tostadinho por cima, com os miúdos do cabrito e pedaços de chouriço. Ali não se facilita. Também aparecem uns galos assados no forno ou em generosa cabidela e uns rojões poderosos.
Terminou-se com rabanadas, leite creme queimado ao momento, cremoso, com canela por cima, uma lambarice e um queijo de ovelha fantástico, de Seia, na companhia de marmelada e doce de abóbora com nozes feitos na casa. Duma boa garrafeira há vinhos para todos os gostos, alguns menos vulgares, que o chefe José Magalhães é também um bom conhecedor e apreciador.
Depois apetece encostarmo-nos perto da lareira e “passar pelas brasas”. Mas optamos por uma aguardente, para ajudar a digestão.
Ir embora é que pode ser algo complicado…