Ismael Lourenço começou na restauração muito cedo, neste “A Regional Valonguense”, em Valongo. Ali foi funcionário desde 1995, servindo á mesa mas fazendo um pouco de tudo. Com naturalidade, em 2001, fez parte da gerência e logo em 2004 assumiu a responsabilidade total da casa, criando o seu próprio estilo. Até que, em 2015, acabou por adquirir a casa e nunca mais parou.
É uma casa familiar e ali trabalham também a sua mulher e os seus dois irmão. Destes, o mais novo, Jorge, é o cozinheiro, a chefiar uma equipa completa e o mais velho, João, é o chefe de sala mas ao mesmo tempo é o especialista em vinhos, tendo formação de escanção. Embora faça parelha com o seu irmão Ismael, também ele apaixonado por vinhos. Daqui resultou uma carta muito completa e com belas surpresas, que também podem ser adquiridas na garrafeira que se encontra ao lado do restaurante e mesmo em encomendas on-line, a funcionar muito bem. O bom gosto desta família fez com que por ali passem muitos produtores de vinho, um pouco de todo o país, pois sabem que esta casa de bem comer também trata muito bem os vinhos, desde as temperaturas aos copos, tendo mesmo muito cuidado nas propostas de harmonizações.
Por vezes acontecem jantares vínicos que normalmente esgotam, tal a qualidade e a divulgação que é feita.
Entra-se no restaurante por uma esplanada coberta, sempre cheia. Lá dentro apresenta-se a sala principal, de boas dimensões, tendo do lado esquerdo uma parte da garrafeira, logo seguida do balcão principal, a dar para a cozinha. Num pequeno armário estão expostas muitas compotas, que são confeccionadas também na casa e que ali podem ser compradas. Segue-se a segunda sala, ao fundo, também espaçosa. No primeiro piso há mais salas, que podem ser utilizadas em dias de maior movimento, mas normalmente utilizadas para serviços, de que a casa tem também imensa procura. Mesas bem postas e serviço muito profissional e bem dirigido, simpático e muito eficiente. Nota-se que há sempre muitos clientes já habituais da casa, com um movimento constante que lhe dá muita vida.
Do tal balcão não páram de sair petiscos dentre as várias entradas e os pratos principais, duma ementa vasta com ofertas para todos os gostos. Embora haja algumas inovações e mesmo pratos criados na casa, a comida tradicional é o forte, entre alguns grelhados, sobretudo carnes, comida de tacho e de forno.
Pão, broa e vários petiscos, para começar: pataniscas, rissois, chamussas, presunto, salpicão, carapauzinhos e petingas fritos, cogumelos recheados, pimentos padrón e muito mais. O polvo e o bacalhau são obrigatórios nesta mesa de qualidade. O polvo cozido ou grelhado, na companhia de batata a murro e legumes cozidos, regados com óptimo azeite transmontano, de onde são os três irmãos e de onde vêm muito mais produtos bons. O arroz de polvo com filetes do mesmo, delicioso, aparece todos os dias, com a curiosidade de, á segunda-feira, este prato ter um desconto de 50%. O bacalhau pode ser assado na brasa, assado no forno, frito de cebolada com batata frita ás rodelas ou á Zé do Pipo, entre outras ofertas. Há sempre filetes de pescada com salada russa, lulas grelhadas, robalo e dourada de mar para grelhar. Na época não faltam as sardinhas assadas.
Nas carnes é difícil escolher: naco de vitela na brasa, posta de vitela na brasa, picanha na brasa, bife e costeleta de vitela á Dona Miranda. Rojões, tripas á moda do Porto, ao domingo, e por vezes um soberbo butelo cozido com cascas, bem transmontano. Quando começa o tempo frio aparece o cozido á portuguesa, com fartura de carnes de porco, frescas e fumadas e enchidos deliciosos, á sexta-feira e ao domingo. Ao sábado é o arroz de pato, a feijoada á transmontana e a cabidela de leitão com rojõezinhos do mesmo.
Pelo forno passa a vitela e o cabrito, com todos os matadores, ao fim-de-semana.
E até servem uma enorme francesinha, muito popular.
Para além de boa variedade de fruta e queijos portugueses, a doçaria regional é também muito bem apresentada, com algumas criações próprias, para os mais lambareiros.
Se abrirmos a carta de vinhos, vamos certamente perder-nos, tal a variedade, mesmo com vários vinhos pouco conhecidos. Com a certeza que foram previamente provados e testados pelos dois irmão, para que os possam propôr aos clientes, mesmo aos mais exigentes.
E assim funciona muito bem.
Uma casa de bem comer que se continua a afirmar no panorama da gastronomia tradicional de qualidade.
Eu vou continuar a aqui vir sempre que possa…