Tormes é um pequeno lugar do concelho de Baião, bem perto do rio Douro, que foi imortalizado no romance de Eça de Queiroz “A Cidade e as Serras”. O grande escritor português herdou ali uma propriedade, que recuperou e onde se passa grande parte do célebre romance.
Mais tarde os seus herdeiro transformaram o belíssimo espaço num quase museu onde estão os pertences do escritor, que vale a pena visitar. Hoje é gerido pela Fundação Eça de Queiroz. Embora já há alguns anos ali se servissem refeições e até banquetes, normalmente a cargo do sr. António Pinto, da também bem conhecida Pensão Borges, em Baião, recentemente foi criado um restaurante, a servir diariamente. Aproveitando parte da velha adega da casa, que foi primorosamente recuperada e adaptada, tendo sido construída uma nova cozinha, o restaurante de Tormes serve pratos tradicionais e muito do receituário queirosiano, referido nas obras do autor.
Á frente da cozinha está José Pinto, filho do sr. António, que fez o curso de chefe de cozinha numa escola de hotelaria, dominando as técnicas modernas que lhe permitem fazer algumas propostas mais arrojadas (Eça também gostava de foie gras e caviar, ou não tivesse sido embaixador em Paris), mas que aprendeu, e bem, todo aquele riquíssimo receituário tradicional, que domina com mestria.
A sala tem belas paredes de granito e uma parede toda de branco, onde pontifica um desenho que representa Eça de Queiroz, sempre presente. Por detrás do pequeno balcão de serventia há um óculo que deixa ver a cozinha resplandecente. Além do pão e broa deliciosos, há azeite para molhá-los, presunto e salpicão fatiados, uma alheira fantástica, cogumelos saltados, um soberbo pastelão de ovos com salpicão e presunto, á maneira antiga, peixinhos da horta, vinha d´alhos, que é carne de porco fatiada e temperada em vinha d´alhos e mais algumas delícias.
Nos pratos de peixe o bacalhau á Alencar e o bacalhau estufado com grão e pimentos são obrigatórios. Nas carnes há mais oferta: bife á inglesa, bife de cebolada, escalopes de vitela á inglesa, lombo de porco assado com castanhas, perdiz estufada e o célebre frango alourado com arroz de favas. Na última visita provaram-se uns rojões de matança, muito completos, na companhia do tal arroz de favas com salpicão, de chorar por mais.
Por encomenda há pratos emblemáticos da região como o bacalhau assado no forno, anho assado com arroz de forno, capão recheado (na época), feijoada á transmontana, cozido á portuguesa e arroz de cabidela.
Beberam-se os óptimos vinhos verdes da Covela, que é mesmo ali ao lado.
A tradição manda que se feche a refeição com bolo de chocolate, arroz doce ou creme queimado.
E assim se fez!
Um espaço no meio rural, com comida séria e a memória dum dos grandes escritores portugueses…