Ainda me lembro daquele pequeno restaurante ao lado duma estação de serviço da Shell, mesmo à face da Estrada Nacional nº 1, em Pombal. Comiam-se uns filetes de pescada, umas postinhas de bacalhau frito, bolinhos de bacalhau e uns panados fininhos e estava sempre a sair arroz de tomate com leve toque de pimento, malandrinho, a ferver, que era uma maravilha. No fim a conta era simpática e lá voltávamos uma e outra vez. Os tempos mudaram, foi construída a auto-estrada ali perto, mas a clientela não só não diminuiu, como até aumentou substancialmente. Os proprietários decidiram construir um novo espaço, poucos quilómetros adiante do original, de muito maiores dimensões e com enorme parque de estacionamento.
Estava criado o Manjar do Marquês!
Logo à entrada há um enorme balcão com venda de muitos produtos regionais, entre doçaria, artesanato e vinhos. Para o lado esquerdo é a sala principal, em que se mantém a tradição do balcão de grande dimensão, para uma refeição mais rápida, sempre com a mesma qualidade: lá estão os bolinhos de bacalhau, as chamussas, as postinhas de bacalhau fritas, os filetes de pescada e os enormes panados, tudo acompanhado pelo tal arroz, hoje como dantes, malandrinho, de tomate e pimento, para apreciar com veneração, de olhos fechados. Do lado direito é a outra sala, também de boas dimensões, para serviço à carta, embora se possa sempre pedir uns fritos para começar. A ementa é muito variada: bacalhau no forno, arroz de polvo ou de tamboril, ensopado de peixe, polvo assado no forno, feijoada de chocos, torresmos de lombo de porco, rojões com migas de nabiça e morcela de arroz, churrasquinho de lombo grelhado, arroz de carnes de aldeão, arroz de entrecosto com grelos, ervilhas com ovos escalfados, favinhas saloias, pato assado no forno, borrego à moda de Pombal, vitela d’avó e tantas outras delícias do nosso receituário tradicional. Em visita recente, além do pão e broa crocantes e de alguns fritinhos de entrada, começou-se por uns carabineiros salteados suculentos, a saber a mar, a que se seguiu um bacalhau dos pobres que a D. Lurdes preparou naquele dia, fora da ementa, como faz tantas vezes.
O bacalhau de muito boa qualidade, lascado e sem espinhas, com pedacinhos de batata e couve branca, que é enformado e vai ao forno coberto de broa e generosamente regado de azeite. Vem directamente para a mesa, a fumegar e repete-se uma e outra vez… As coisas simples da nossa terra feitas com carinho. Rematou-se com umas queijadinhas fofinhas e chocolate cortado duma barra, na companhia de amêndoas. Duma garrafeira vasta que não pára de crescer, com o bom gosto do Paulo Graça, não é fácil escolher o que beber. E não apetecia sair dali…
A D. Lurdes, como faz tantas vezes, veio à mesa, do alto dos seus oitenta e tal anos, sempre com aquele sorriso de menina.
É uma verdadeira instituição da culinária portuguesa. Bem-haja!
IC2, 3100 – 373 Pombal
Telefone: 236 200 960
Fecha à quarta-feira.