Conhecia a Filipa Pato ainda menina adolescente, já eu provava com o seu pai Luís Pato, enquanto me recordava do seu avô João Pato e os seus belos espumantes. Por isso não é de admirar que a Filipa Pato tenha também enveredado pela produção de vinhos. Mas além de produtora ela é também uma criadora. “Bebeu” literalmente todos os ensinamentos de seu pai, na adega dele fez uma grande parte dos seus vinhos, mas desde cedo soube arrepiar caminho e criar o seu próprio estilo. Viajou pelo mundo, contactou com outras culturas e outros estilos que a ajudaram a aprender a fazer vinhos, mas soube sempre regressar a casa, à sua Bairrada, às vinhas que foi adquirindo e fazer os seus vinhos. Embora tenha orgulho na família e no nome pelo qual é conhecida, não necessitou de o utilizar pois tem vindo a ser reconhecida cá dentro e um pouco por todo o mundo pela enorme qualidade daquilo que faz. Na última visita à sua nova adega, mesmo ao lado da casa de seus pais, em Óis do Bairro, seguiu-se um almoço da autoria do seu marido, o belga William Wouters, excelente cozinheiro que decidiu deixar o seu restaurante na Bélgica e radicar-se na Bairrada, principalmente por motivos familiares.
Com a Filipa e os miúdos, são uma família feliz. Visitou-se a simplicidade da adega e apreciou-se os ovos de cerâmica onde são feitos alguns dos novos vinhos da Filipa. Depois subiu-se ao primeiro piso, a uma sala polivalente deliciosa. Muitos artefactos, muitos vinhos expostos, muita luz e uma cozinha muito bem equipada onde o William dá largas à sua criatividade e bom gosto. E uma mesa enorme onde nos sentamos e fomos muito bem tratados. Apesar da presença duma “Terroirista” da Baga, numa nota bem humorada desta casal encantador. E, claro, provaram-se alguns vinhos da Filipa.
Começando pelo Nossa Branco Calcário Bical 2016. Cheio de frescura, elegância e uma sedutora mineralidade, óptimo volume de boca, acidez persistente e equilibrada, um grande branco bairradino. Com a Panna Cotta de requeijão com aspic de ervas provou-se o Nossa Branco Calcário Bical 2011, com o mesmo perfil do primeiro mas com mais cinco anos de garrafa. E nota-se! Evolução, uma leve oxidação, deliciosa, boa estrutura, gordo, volumoso e muito exótico, um grande vinho. Seguiu-se o gaspacho de tomates e morangos com manjericão, que foi acompanhado pelo Post Querc…s Tinto 2016 100% Baga. Um vinho especial e diferente, só de Baga e preparado nas tais ânforas de barro.
Talvez seja o regresso às origens, quem sabe?! Cheio de elegância, sedoso, seco, com muito boa acidez. Um vinho à parte… O prato principal foi o carré de cordeiro assado no forno, salada e batatas com tomilho, num conjunto muito saboroso, que foi acompanhado pelo Nossa Calcário Tinto 2015 100% Baga. Dum ano óptimo, está já muito bom para beber, com baixo teor alcoólico, macio, algo complexo, tentador, belo vinho.
Terminamos com a delícia de chocolate negro, uma sobremesa intensa. Que teve por companhia outra das criações da Filipa Pato, o Espírito de Baga 2013 100% Baga. É um licoroso feito na Bairrada, a partir da casta Baga e com aguardente da Bairrada, que as há tão boas. A conversa continuou sobre a Bairrada, os seus vinhos e a família Pato/ Wouters.
Só foi pena termos que ir embora.
Até à próxima…