A Casa de Cello é um pequeno produtor de vinho, com uma propriedade no Dão, a Quinta da Vegia, perto de Penalva do Castelo, onde tem cerca de 30 hectares de vinha e outra na região dos vinhos verdes, a Quinta de S. Joane, ali perto de Amarante, em Mancelos, com cerca de 14 hectares. Visitamos a Quinta de S. Joane, numa manhã chuvosa de primavera, mas a beleza da paisagem e das vinhas impôs-se desde logo.
Com o proprietário, João Pedro Araújo, a receber-nos e a mostrar não só as vinhas e a pequena adega, mas também a guiar-nos por uma prova bem interessante dos seus excelentes brancos. Alguns deles já com uns bons anos em cima, a provar que também os verdes envelhecem muito bem. Ali trabalham-se algumas das castas tradicionais da região, tentando-se sobretudo fazer vinhos elegantes, que exprimam o terreno onde as vinhas estão plantadas e o clima de região. Na adega ainda se usam velhas cubas de cimento, adaptadas à modernidade, a par das cubas de aço inox e de algumas barricas por onde passam certos vinhos. No total produzem 40.000 garrafas de vinho anualmente, sendo cerca de 40% de Vegia. São quatro brancos e três tintos, sendo que o Passi e o Vegia Superior só são produzidos em anos excepcionais. Também produzem espumante, de que o último foi da colheita de 2006 e o próximo, ainda a estagiar, vai ser o de 2011.
Provaram-se seis vinhos, percorrendo as categorias principais da casa e alguns anos de produção. A começar no Terroir Mineral 2015, um vinho cheio de frescura e com uma acidez muito equilibrada, um pouco fora do que é vulgar na região – estamos em Amarante. Nota-se desde logo a evolução em garrafa, que só lhe faz bem. Comparativamente provou-se o Terroir Mineral de 2014, com o mesmo perfil mas com deliciosas notas de evolução, mais complexo, subtil, mantendo a mineralidade e a acidez. Seguiu-se o Alvarinho de 2015, uma casta singular que se adapta muito bem aos solos, sejam eles quais forem. Aqui já com alguma evolução em garrafa, mas cheio de força, elegante mas com estrutura, fruta presente mas muito suave, num conjunto muito equilibrado. Provou-se então o Escolha Branco 2014, que tem sido considerado um dos melhores vinhos da região. Um vinho sedoso, concentrado, numa alquimia perfeita entre frescura e acidez, muito envolvente, que vai evoluindo no copo, que nos agarra, apetece sempre mais um pouco. Um vinho gastronómico a dar harmonizações muito diversas, desafiantes. Lá no topo, qual imperador autoritário, o Superior de 2012… Um vinho que só é produzido em anos especiais, acariciado, alvo de todas as atenções, um vinho muito particular. Já com quase cinco anos de garrafa, tem evoluído duma forma extraordinária, requintado, com laivos de austeridade, muito elegante, complexo e aveludado. Um vinho que se vai descobrindo a cada trago, um vinho para apreciar com tempo, a ouvir uma área de Vivaldi, recostados num bom sofá…
Terminou-se com o Passi, um vinho verde elaborado como um “passito”, um branco doce em que as uvas foram desidratadas, dando um vinho apenas com 8,5% de álcool, quase um colheita tardia, para beber bem refrescado, muito curioso. Apenas em garrafas de 0,375ml, com muito boa acidez e alguma frescura, a contrastar com uma leve doçura que o caracteriza. Acompanha bem algumas entradas e sobremesas doces. Mais uma vez a versatilidade dos vinhos verdes no nosso copo. Casa de Cello, um espaço minhoto recatado onde se dá primazia ao vinho de qualidade. Prometemos voltar…
Lugar de Cello Mancelos
4605-118 Mancelos
Telefone: 22 609 5877